Conheci ele na sexta-feira à
noite tomando um cappuccino na padaria mais próxima. Eu não queria sair este
dia, mas sabe quando bate a deprê e você precisa respirar um ar, ver gente? Foi
isso que eu fiz. Estava chovendo, eu deveria ter ficado em casa. Mas como
sempre fico em casa quando chove, resolvi me desafiar, peguei um guarda chuva
meio quebrado e lá fui eu, a pé, 15 minutinhos de caminhada, cheguei lá com o
cabelo todo úmido e a barra da calça molhada, não, não teria como eu estar
bonita nessa noite. Sentei numa mesa vaga, próxima a dele. Olhei rapidamente o
cardápio e pedi um chocolate quente. Chegou aquela hora chata de ficar
esperando o seu pedido, olhar no relógio, mexer no celular, observar as
pessoas, observar a pessoa que estava próxima de mim... Foi ai que percebi que
ele estava concentrado em seu jornal, parecia muito culto, com o óculos de
armação escura, olhar concentrado. Fiquei imaginando o que ele estava lendo, se
seria algo que valesse a pena tamanha concentração, certeza que seu capuccino
já havia acabado. De longe, ele era o cara mais interessante dali. Suas mãos
pareciam firmes, reparei que não usava nenhuma aliança, seu corpo era reto, ele
não era malhado e nem magro, era na medida certa, devia ser uns 6 anos mais
velho que eu. O ar exalava o perfume dele, forte, excêntrico. E eu, quase sem
querer, exalei o cheiro, e me senti mais próxima dele. Não sei explicar a
sensação, isso nunca aconteceu comigo antes, eu estava interessadíssima em
alguém que apenas vi, não troquei uma palavra. Eu desviava o olhar às vezes,
com medo de ficar muito na cara tamanho interesse. Será que ele estava
percebendo? A garçonete chegou com a bandeja, entregou a mim um cappuccino e
algo para o cara interessante. Quando olhei, vi que não era meu chocolate
quente, antes de eu subir meu olhar, a voz dele veio em minha direção: - Acho
que trocaram- disse, abrindo um sorriso gigante, mostrando seus dentes
enfileirados, brilhantes. Eu apenas pude rir e concordar com a cabeça,
entregando o cappuccino e pegando meu chocolate. Ele disse um sorreto obrigado,
e eu o agradeci também. Bebi meu chocolate sem virar a cara para ele, não sabia
o que fazer, estava sem reação. Se eu perguntar as horas, ou fingir que ele se
parece com um amigo, fica muito na cara? Talvez eu deva da uma de louca e puxar
um assunto: Você vem sempre aqui? Ou melhor, derrubar chocolate nele, putz, que
acidente! Ou apenas devo jogar uns olhares, afinal, olhar não mata ninguém.
Meus pensamentos são cortados pelo movimento dele se levantando e simplesmente
indo embora. Quando me dei conta do que tinha acabado de acontecer, ele já
estava a metros de distância. Depois disso nunca mais o vi, nunca irei saber se
ele era gay, se era comprometido, se não tava afim de mim ou se era tímido
demais.... droga!
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