Saudade
de você quando ouço a sua banda preferida. Às vezes finjo que não ouço, mas ela
insiste em tocar nos bares por ai, nas esquinas que eu apareço, meio alterada
procurando pelo seu rosto na multidão, mas o que eu vejo é gente bêbada, gente
se pegando, gente fumando, gente se amando e você não está. Não, você não está
em nenhum lugar, simplesmente fomos separados de planetas, ou vivemos mundos
paralelos, posso sentir que você passou por aqui, talvez esteja aqui, mas não
consigo te ver, não consigo te tocar. Eu pego o metrô e não posso negar que
quando chega na 'Liberdade' me da um frio na barriga, porque era onde eu te
encontrava, era o nosso ponto de encontro, mesmo se eu não te visse, eu sabia
que você tinha passado por lá e isso me dava um frio na espinha, uma vertigem
misturada com ansiedade, ah, como eu queria ter te esbarrado tantas vezes, mas
o acaso simplesmente levou você embora. Aquela estação já não tem tanta mais
graça, não entendo como minha mente insisti em te esperar, sabendo que não
virá. Aquela nossa música virou minha música, pois nunca tive a chance de falar
que ela era nossa, ela apenas se desmanchou nos meus ouvidos numa tarde de
sábado enquanto eu procurava esquecer o seu rosto e pronto, nem minha música é
mais, ela virou um nada, um vácuo no meio do meu ipod, um buraco nas minhas
lembranças suas. Não, não consigo negar que vou aos lugares sabendo que posso
te encontrar. 'Esteja aqui, só hoje, esteja aqui...' minha mente insiste em te
chamar, mesmo meus desejos querendo outros. Me arrumo para você na esperança de
dar um click na sua cabeça e você falar: "Você está linda, eu quero você
de novo comigo." Mas não ouço isso, pelo contrário, o seu silêncio fala e
fala muito: "To nem aí pra você..." E eu tento me curar dessa
insistência de te querer de novo fazendo carinho nas minhas mãos, nos meus
braços, me beijando profundamente, sentindo seu corpo perto do meu, mas você
não é a cura, nem o tempo, nem ninguém. A cura ta na minha cabeça que insiste
em algo que nem existe mais. Preciso mudar. Quando acho que me libertei, vem
você chegando de fininho, e só o jeito de me olhar, me contorce por inteira,
você não sabe a força que tem sobre mim. Fecho os olhos, tentando te afastar
dos meus pensamentos, pelo menos só por hoje. Pelo menos por hoje não vou pegar
a linha azul, farei outro caminho. Quem sabe assim te esqueço um pouco, quem sabe
assim a estação liberdade só será mais uma simples estação, quem sabe com
esforço, eu consiga te tirar de mim e respirar de novo, sem voltar pra trás. Só
não apareça enquanto eu tiver te esquecendo, porque é um processo diário pra
mim. Com todas as forças tentarei te esquecer, mas no fundo, meu corpo inteiro
estará gritando por você, mesmo sem eu perceber.
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