Esses dias não tem sido fáceis, sabe? Ontem mesmo peguei meu livro, minha xícara de café e fui até a varanda tentar me desconectar da realidade e me perder um pouco junto com os personagens que, mesmo com as experiências mais loucas e inacreditáveis sempre encontram um jeito de ficar bem. Me pergunto como é que eu ainda não encontrei a fórmula mágica, a tal "receita" ou seja lá o que eles tenham descoberto. É que ainda há tanta pergunta em aberto, tantas dúvidas... que fico aqui tentando achar as respostas esquecendo que o que passou, passou e não volta mais.
O vento levantou meu vestido duas vezes antes de sentar no banquinho. Meu quintal sempre foi a praia, então era de se esperar estar frio no fim da tarde quando geralmente o vento vai ficando mais forte. Não entrei para pegar um agasalho, abri o livro, bebi um gole do meu café - agora quase frio -, e comecei a minha leitura. Queria pelo menos chegar na metade da história, já que não deu tempo de terminar tudo semana passada por conta do trabalho. Mas agora era domingo e tinha tempo livre de sobra. Que ingenua em acreditar que não pararia no caminho. Claro que parei. Sem querer olhei para o mar e sua infinidade e deixei uma lágrima escapar. Não era você, era saudade de tudo. De como as coisas eram antes. Da família, dos amigos, da vida sem todas essas responsabilidades e lutas diárias.
Deixei a tristeza entrar e sair. Respirei. Terminei meu café congelado, peguei o livro - ainda aberto em uma página qualquer escolhida pelo vento - e entrei em casa. Meu celular tocou, era a Carla querendo ir à uma festa. Neguei. Tinha que acordar cedo para minha aula de estética. A verdade é que conseguiria fazer os dois, mas nem um copo de cerveja gelada me animaria agora. Ou será que é o que preciso? Vou continuar sem resposta. Talvez seja o que aconteça na maior parte do tempo. Fico presa num medo inexistente me achando incapaz quando sei até onde posso ir. Do que adiantou os diversos livros de autoajuda que a tia Lena me mandou nas últimas festas de aniversário? Pouco importa.
Me deitei. Dormi por algumas horas, levantei no meio da madrugada, tomei um chá, ouvi Clarice Falcão, ri de umas fotos antigas que não apaguei da galeria do celular e deixei mais umas lágrimas escorrerem. Adormeci.
Hoje o dia foi menos mal, até consegui resolver a atividade que o professou passou durante a aula. Ultimamente estou indo assim: dia não, dia sim - vai saber qual é melhor que o outro. Não chorei. Consegui chegar até aqui sem balançar. Deve ser isso. As ausências e saudades podem até machucar, mas também podemos olhá-las de forma saudável. Como uma parte boa de nossas vidas que vão nos marcar para sempre. O problema é que vivemos com medo das mudanças, de crescer e nunca mais ter aquilo que amávamos, então nos prendemos ao sofrimento da falta delas.... só que isso não é uma escolha, acontece de forma natural, vai passando sem pedir licença e permissão. A gente só vai sendo conduzido para a dança até chegar aos passos mais difíceis e brilhar.
Uma pequena pausa.
Ainda estou aprendendo isso.
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