Meu bem, oh meu bem, estava hoje arrumando meu quarto, quando me deparei com um tercinho seu. Estava no fundo do meu guarda-roupas, bem escondidinho. Nem sei porque eu guardei seu terço por tanto tempo e não desfiz dele. Podia deixar numa igreja, sei lá. Nem sei porque não mandei junto com você, quando você disse adeus. Poderia ter feito isso, poderia também ir agora na sua casa, te devolver e dizer: toma que isso te pertence. Mas acontece que olhando esse tercinho eu pensei bem e cheguei a conclusão que ele era a representação do que restou de nós. Eu não desfiz dele e nem dos meus sentimentos por você. Assim como ele estava no fundo do meu guarda roupas, tudo que ainda sinto fica escondido dentro do meu coração. Se você nunca me disse adeus, como mandar ele com você? Se eu fosse na sua casa e dizer: toma que isso te pertence, entregaria meu coração junto com ele.
Estava arrumando meu quarto, porque
queria algo meu arrumado – já basta a confusão que você deixou na minha
cabeça e no meu coração desde o dia em que decidiu ir. Se você tivesse
dito adeus, teria sido mais fácil, sério. O problema foi ver você indo aos
poucos e eu nem pude impedir. Por mais que eu tentasse te segurar, algo te
levava. Aprendi que não adianta pedir para ficar, quem já decidiu ir
embora.Quando me dei por mim, não tinha você aqui. Meu celular não tocava
mais, não sabia mais nada sobre você, via suas novidades pelas redes sociais e
ficava surpresa – e olha que eu sempre fui a primeira a saber de tudo. Passei
noites em claro, tentando entender quando é que tudo acabou.
Mas eu fui indo, deixando a maré da
vida me levar. Os dias foram passando, e se você quer saber, eu comecei a
escrever um livro, fiz novas amizades, minha vida profissional está engrenando – finalmente,
minha hamster fez um ano, vi um nascer do sol lindo no alto de uma
montanha, aprendi a gostar de catuaba, como frutas todos os dias, não
larguei do café e nem do miojo e agora sou apaixonada por água. As coisas por
aqui mudaram um pouco, concordo. Assim como os dias passavam, as lembranças de
você também. Comecei a me concentrar em muitas coisas e tentar te deixar de
fora do meu pensamento. E tinha horas que conseguia, me sentia
vitoriosa.
Quando escutava seu nome, algo aqui
dentro de mim estremecia, mas eu disfarçava tão bem que nada acontecia, que
minhas amigas admiravam como superei a sua ida, de como me recuperei rápido.
Fingia que você não existia e que nem ligava pro que estava acontecendo. Um
segredo: sim, eu ainda me importava. E eu juro que não
entendia porquê toda essa dependência, porquê toda essa vontade de querer
dividir com você todas as novidades da minha vida. Meu coração? Não
dá espaço para mais ninguém. E quando escuto Logo Eu do
Jorge e Mateus? Eita menino, não consigo ouvir mais. Parece que você vai surgir
na janela.
Quando vi o seu tercinho,
entendi que tem algo que eu perdi e ainda está com você, por isso ainda estou
assim te procurando em cada canto.
Me faz um último favor? Olha aí perdido, entre o seu olhar, seu coração,
entre a bagunça do seu quarto, no seu guarda-roupas, não sei onde possa
ter deixado, mas eu esqueci algo com você também. Meu bem, tu tem minha
saudade. Se você achar, posso buscar?
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