A imperfeição de ser quem se é: O grito silencioso de "Normal Girl" da SZA



Às vezes, o maior desafio é simplesmente ser quem somos. Parece que vivemos tentando encaixar nossas inseguranças em moldes que não nos cabem, buscando uma perfeição que só existe no imaginário. "Normal Girl", da SZA, fala diretamente com essa luta interna — o desejo de ser "normal" aos olhos de alguém, mas também o conflito em entender que, talvez, essa versão idealizada não exista. E, para as mulheres negras, esse peso parece ainda maior.

Cada verso da música carrega uma vulnerabilidade que não é só pessoal, mas também histórica. Existe uma cobrança que ultrapassa o indivíduo. Não é só sobre ser a garota que "pode ser levada para conhecer a família", é também sobre o papel que a mulher negra ocupa em uma sociedade que a vê como um objeto de desejo, mas raramente como alguém digna de amor e compromisso. O refrão, “I wish I was the type of girl you take over to mama / The type of girl, I know my daddy'd be proud of”, denuncia esse racismo estrutural que constantemente empurra a mulher negra para a periferia das relações, enquanto as mulheres brancas são vistas como "a escolha certa", a quem se apresenta aos pais.

A solidão da mulher negra é um tema que ecoa em muitos outros versos. A sociedade ainda alimenta a narrativa de que a mulher negra é boa para aventuras, para a cama, mas não para o compromisso. Elas são sempre "a segunda opção", trocadas facilmente por uma mulher branca que se encaixa nos padrões eurocêntricos de beleza e aceitabilidade. SZA canta isso não de maneira direta, mas nos silêncios entre as palavras, nos espaços vazios que dizem tanto quanto os versos. Existe um cansaço em tentar ser suficiente em um mundo que constantemente a diz o contrário.

"Normal Girl" nos faz refletir sobre essas pressões que não são só de gênero, mas também raciais. SZA nos lembra que as mulheres negras, ao longo da história, têm lutado para serem vistas de forma plena — não só como fetiche, mas como seres humanos completos, dignos de amor e respeito. E, ao mesmo tempo, ela canta a dor de quem se vê presa nessa busca, entre o desejo de ser "normal" e a aceitação de que talvez a ideia de normalidade nem exista para ela.

Ser uma "Normal Girl", para muitas mulheres negras, é uma batalha interna e externa. A sociedade continua colocando elas à margem, enquanto abraça e enaltece os padrões brancos. No entanto, SZA nos mostra que, mesmo na dor e na busca por aceitação, existe força. A força de reconhecer que a imperfeição, e a recusa em se moldar ao que esperam delas, também é um caminho para a liberdade.

"Normal Girl" é, no fim das contas, sobre ser suficiente. Mesmo quando parece que o mundo está pronto para dizer o contrário, especialmente se você for uma mulher negra.



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