Tem um clichê que diz que as redes sociais só mostram o lado bonito das coisas. O clichê está certo, mas tem algo que é mais intrigante do que isso: a incoerência que muita gente tem entre o que posta e o que faz.
Você sabe do que eu estou falando. Você, que um dia me chamou pra sair com aquele entusiasmo que parecia sincero, mas depois sumiu como quem nunca existiu. Ghosting é a palavra bonita que deram pra traduzir o que, na prática, é um silêncio cheio de descaso. E até aí, tudo bem. Eu aprendi a lidar com ausências, mas confesso que o seu tipo de ausência deixou um gosto amargo.
Afinal, como você pode desaparecer e, ao mesmo tempo, curtir freneticamente vídeos sobre "responsabilidade afetiva"? Como você pode comentar com emojis apaixonados em posts sobre "ser transparente com o outro" e "cuidar dos sentimentos alheios", enquanto os meus ficaram largados em algum canto de uma conversa nunca encerrada?
Essa é a beleza cruel da internet. Ela permite que você viva uma versão editada de si mesmo, uma em que você é evoluído, sensível e perfeitamente consciente das suas falhas. Uma pena que essa versão só existe para os outros curtirem, porque quem cruzou com você na vida real sabe que isso tudo é fachada.
Não que eu precise de um pedido de desculpas seu. Não é sobre isso. É sobre como você é um espelho do que muita gente faz hoje: performar virtudes enquanto falta com elas onde importa. No fundo, não é por mim, é por você mesmo. Essa desconexão entre o que você aparenta ser e o que você realmente é deve ser exaustiva. E talvez você nem perceba.
A responsabilidade afetiva não está em um like, nem em um compartilhamento. Ela está em não deixar as pessoas esperando por respostas que nunca vão chegar. Está em ser claro, ainda que doa, e não se esconder atrás de silêncio porque é mais fácil. Talvez seja hora de você refletir um pouco mais sobre isso. Quem sabe, da próxima vez, o que você curtir também faça parte do que você é.
E enquanto você não chega lá, eu fico aqui, seguindo em frente. Já que você optou pelo silêncio, que ele te acompanhe nas curtidas vazias que você espalha por aí. Eu fico com a paz de não precisar fingir ser algo que não sou.
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